Vinhos do Brasil IV – Campos de Cima da Serra – RS (Les Vins et Les Autres)

Vamos caminhando rumo ao norte, ainda dentro do estado do Rio Grande do Sul, em Campos de Cima da Serra, no que podemos definir como a única área vitícola do estado com aptidão para os “vinhos de altitude”! Embora um pouco menos alto que o produtor vizinho de cima, no Planalto Catarinense, essa sub-região se situa entre 850-1000 metros acima do mar, nas áreas cultivadas.

Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: “maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!”, um slogan bem conhecido localmente.

Naturalmente temos ali, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta, boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali podemos iniciar, rumo ao litoral, a conhecida “Rota do Sol”!

Aracuri (foto: Evandro Silva)

O clima gaúcho como um todo, sofre com as chuvas. Em Campos de Cima, a pluviometria total é semelhante à de outras partes do estado porém com precipitações um pouco abaixo da média nos meses de novembro, dezembro e março.

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque sobretudo no munícipio de Muitos Capões, onde a parceria da Miolo Wine Group e o empresário Raul Anselmo Randon rendeu excelente matéria-prima (vinificada no Vale dos Vinhedos), culminando na linha de vinhos RAR Collezione, que engloba também varietais de Merlot, Gewurztraminer e Viognier, além de um corte Cabernet Sauvignon/Merlot.

As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e na minha opinião, a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

Aracuri (Foto: Evandro Silva)

Outros produtores são:

Sozo, com vinhedos a mil metros de altitude, paralelo 28, com cortes bem bordaleses com Cabernet, Merlot e Petit Verdot. Um exemplo de pequeno produtor, que outrora vendia suas uvas para serem transformadas em vinho em Flores da Cunha.

Aracuri Vinhos Finos, que foca a linha de varietais e oferece também o que se pode ser uma boa opção para uma região com estas características: espumantes! Mas os vinhedos são um tanto jovens ainda. Ao invés de cortes tradicionais no estilo, há dois vinhos, um 100% Chardonnay e um 100% Pinot Noir.

Para finalizar, pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

Saúde!

Site Oficial: https://lesvinsetlesautres.wordpress.com/2015/04/03/vinhos-do-brasil-iv-campos-de-cima-da-serra-rs/