Vinícola Aracuri – Muitos Capões (Vinhos & Trilhas)

Vinícola Aracuri – Muitos Capões

No Vinhos & Trilhas desta semana fui visitar uma pequena vinícola no Munícipio de Muitos Capões, cidade localizada a cerca de 35 km de Vacaria, na região denominada Campos de Cima da Serra. A Aracuri é uma vinícola pequena que já tem aproximadamente 10 anos de existência, produz anualmente 40000 garrafas, o que a posiciona como uma vinícola de pequeno porte. São cerca de 11 hectares plantados mas somente 9 Ha em produção. Destes, 2,5 Ha de Cabernet Sauvignon, 2,5 Ha de Merlot, 2 Ha de Chardonnay, 2 Ha de Sauvignon Blanc e 2 Ha de Pinot Noir.  Todos os vinhedos são próprios e estão localizados em Muitos Capões, no entanto, a Aracuri ainda não possui uma planta de vinificação, sua produção é terceirizada em vinícolas parcerias sempre com o acompanhamento da enóloga chefe Paula Guerra. Segundo palavras da própria Paula “nada é feito sem que estejamos ao lado autorizando todos os processos”.

Já conhecia a região dos Campos de Cima da Serra mas não especificamente Muitos Capões, fiquei impressionado com a condução quase integrada que os vinhedos da Aracuri passam, a região sofre a influencia constante de ventos devido a sua altitude de mais de 900 metros, outro ponto impressionante é o solo argiloso com uma drenagem impressionante. Começo a entender melhor por que grande parte dos produtores artesanais e muitas vinícolas começam a investir neste Terroir ou compras uvas de lá, realmente mostra-se uma região com grande potencial.

Acredito que a Aracuri está passando por um momento muito importante, digo isto pois grande parte dos vinhos que estão atualmente no mercado ainda tem a mão do antigo enólogo Cristiano Zorzan, alguns destes vinhos já tem a influencia da nova enóloga Paula Guerra Schenato e alguns novos já tem 100% da assinatura de Paula, ou seja, quero observar atentamente como os vinhos se comportarão pois estamos vendo um momento de transição na Aracuri, muito positivo penso eu pelo que andei degustando.

Apesar de pequena e com relativo pouco tempo de mercado, a Aracuri já tem uma linha bem variada de rótulos no mercado, depois farei uma análise detalhada de cada um dos vinhos. O que mais me agradou em nosso último encontro com Paula, uma conversa animada em um jantar regado a muito vinho Aracuri, são suas ideologias firmes e com um norte bem definido. Paula deixa claro que a Aracuri segue para um caminho de pequenas produções totalmente focada na expressão do Terroir e de cada cepa. “Não somos uma vinícola artesanal ou orgânica, nada disso, mas temos um manejo quase integrado dos vinhedos  e tento fazer a mínima intervenção possível” destaca Paula.

Novamente, ainda é cedo para avaliar o peso destas palavras, Paula é uma enóloga relativamente nova no mercado que veio de uma formação em uma grande vinícola, vivenciou todas as práticas possíveis para se produzir ou “fabricar” um vinho, agora, chefe de cave de uma pequena vinícola onde tem liberdade para tomar decisões em todos os processos, é que vamos poder sentir até onde seu coração irá se expressar nos vinhos Aracuri.

Passo abaixo uma descrição breve dos vinhos que degustamos da Aracuri.

Espumante Aracuri Brut Rose Charmat.

Este Rose ainda não foi lançado, deve entrar no mercado em breve, uma nova aposta da Paula. Visual rosa cereja, bem claro, esmaecido. No nariz aromas florais, rosas, algo de ervas, discreto, sua boca confirma, refrescante, leve, acidez bem colocada, final de boca com um toque de amargor mas sem incomodar, uma proposta descontraída, vai depender do valor, se ficar com um preço final justo pode ser um produto muito competitivo.

Espumante Aracuri Collector Blanc de Noir tradicional.

Este deveria se chamar “rose de noir”, brincadeiras a parte, Paula fez uma coisa muito interessante preservando os toques acobreados na cor provenientes da Pinot Noir, não é algo que muitos enólogos se aventuram, acabou criando uma proposta diferente do mercado, não é rose nem branco, uma cor cobre, linda. Nariz e boca mostram um espumante mais sério, com mais personalidade, tem um ataque mais vigoroso com uma acidez firme, ótimo para se servir acompanhado de um belo prato, quase qualquer um!

Aracuri Chardonnay 2102

Amarelo palha já apresentando alguns reflexos dourados, está chegando em seu limite de vida, isto depois se confirma em boca e nariz também.

Nariz discreto, notas de maçã verde, ervas frescas, tomilho ao final.

Em boca gostoso, fácil, entrada leve com acidez discreta, não é um branco que impressiona mas vale seu preço.

Aracuri Sauvignon Blanc 2013

Para mim talvez este seja um dos vinhos mais emblemáticos da Aracuri, foi o vinho que nos apresentou  a vinícola com a safra 2011, excelente diga-se de passagem. Logo após veio a safra 2012, em minha opinião o vinho tinha um problema notável, acho que não deveria nem ter sido lançado. Agora vem a safra 2013, novamente a Aracuri resgata seu belo Sauvignon Blanc. Não é um branco de exceção, nem é esta a proposta pelo seu preço final, mas entrega tudo que deveria e mais um pouco na sua categoria. fresco, leve, acidez no ponto, no nariz aquelas notas cítricas e de ervas muito francas, um Sauvignon para se ter sempre um na adega. Parabéns novamente a Aracuri.

Aracuri Sauvignon Blanc 2014

Um possível novo vinho da Aracuri, não foi lançado ainda, neste, já com assinatura 100% da Paula, a proposta foi um Sauvignon sem filtragem e intervenção, a garrafa apresenta sedimentos em suspensão, no entanto, um salto impressionante do 2013, aqui estamos diante de outro estilo de vinho, se o 2013 não era de exceção, este é! Belíssimo, nariz discreto, não muito intenso mas com lindas notas herbáceas, tomilho, ervas frescas, no final surgem algumas notas defumadas.

Sua boca apenas confirma, belíssima acidez com aquela “secura” mineral dos belos brancos, final de boca longuíssimo. Acho que ainda cresce muito em garrafa.

Aracuri Merlot 2009

Belíssima surpresa como grande parte dos vinhos Aracuri uma relação PP (preço/prazer) imbatível mas ainda assim com uma personalidade impressionante, notas de frutas vermelhas, morangos em passa, ameixas, leve mentolado, já começa a mostrar alguns aromas de evolução pelo tempo em garrafa mas ainda nem sinal de estar se entregando. Na boca ótima acidez com aquela rusticidade que somente os vinhos mais autorais e com pouca intervenção podem entregar. Muito bom.

Aracuri Cabernet Sauvignon 2008

Posso dizer com segurança que hoje é meu vinho favorito da Aracuri, sua evolução em garrafa tem sido impressionante, está maduro, no seu melhor momento, adquiriu aquelas notas especiadas e de couro que somente o tempo em garrafa pode proporcionar, sua boca está melhor ainda, taninos/álcool/acidez em perfeito equilíbrio, tudo no ponto sem exageros, é um daqueles tintos para se tomar uma garrafa sozinho sem problema algum. E o melhor de tudo, custa na casa dos R$ 35. Impressionante.

Aracuri Collector Cabernet Sauvignon 2010

Se o Cabernet de entrada já é especial o Collector não poderia ser diferente, na verdade a passagem por barricas apenas evidenciou as qualidades da Cabernet Sauvignon. Imaginem a Cabernet vestida para um baile de gala. Já parte com notas aromáticas evoluidas, chocolate, cacau, cravo, tudo envolto por uma camada de frutas frescas. Sua força em boca é notável, mas sem exageros, aqui o ideal é termos um belo prato para acompanhar. Um tinto de exceção no mercado, está lindo.

Aracuri Pinot Noir 2014

Confesso que este tinto me deu um pouco de trabalho para avaliar, precisa necessariamente pelo menos uns 30 minutos de aeração para se expressar, no início estava fechado, me parecia até decepcionante. Abriram-se aromas apetitosos de frutas vermelhas frescas e cassis, discreto. Apesar da baixa alcoolicidade tem um corpo interessante com uma acidez bem pontuada, o tempo inteiro mostrou um certo amargor no final de boca que me incomodou um pouco. Apesar de não ser meu vinho favorito da Aracuri neste momento gostei bastante.

Aracuri Reduto

Talvez um dos grandes tintos lançados no mercado brasileiro nos últimos anos, lindo, vinificado pelo estilo dos amarones, aqui temos uvas Merlot de três safras distintas apassitadas gerando um tinto de grande estrutura e força. No nariz notas defumadas , licor de cassis, puxa para um porto, sua boca rouba a cena, corporifica perfeitamente o estilo dos Amarones, primeiro ataque amplo, grande, “doce” mas com belíssimos taninos e aquele amargor típico no final de boca. Muito longo, simplesmente não some da boca, perfeito.