Pinot Noir dá origem a alguns dos melhores vinhos do Brasil (O Globo - Blogs)

Em janeiro, durante a temporada de calor gigante que alcançou até mesmo as montanhas verdes da Região Serrana, degustei em Teresópolis uma garrafa de um Pinot Noir brasileiro, com apenas 12% de álcool e um rótulo simples, discreto até. Botei no balde de gelo. E abri sem muitas pretensões. Cor clara, algo próximo do cereja, com pouca extração. Era límpido e brilhante. Tinha aparência delicada, e os aromas tímidos, isso porque estavam inibidos pelo frio a que o vinho foi submetido. Aos poucos, conforme a temperatura subia, notas florais iam surgindo, lembrando rosas, principalmente, e violetas, seguidas de muita fruta fresca: morango, cereja, framboesa. Fácil de beber e de gostar, é fresco, com boa acidez e bem equilibrado. 
Pego a garrafa e leio o contra-rótulo. Nele estava escrito que o vinho tinha edição limitada a 1950 garrafas, e foi elaborado na Cave Geisse com uvas de um vinhedo vizinho. E que, durante a colheita da uva Pinot Noir para produzir o vinho base da renomada casa brasileira de espumantes, um cacho foi deixado em cada videira, para ser colhido então três semanas depois, para dar origem a este tinto leve, fresco, puro e delicado. 
Trata-se do Vinhedos Hood 2012. Encantei-me por ele, e logo encomendei uma caixa com seis. Achei pouco. Pedi mais duas garrafas, oito no total. Não é um vinho de guarda, e o meu estoque já vai acabando. Agora já estou querendo mais seis. Ou oito, ou 12. Gosto de beber este vinho, e ainda mais de apresentá-lo aos amigos. Um prazer, um orgulho.
A Pinot Noir, esta uva tão delicada e caprichosa, que apresenta comportamento tão diverso de acordo com o local onde está plantado, me parece uma das variedades com maior potencial no Brasil para a produção de vinhos de qualidade. Plantada em quantidade bem razoável para ser usada na elaboração de espumantes, vem mostrando grandes resultados também nos chamados vinhos tranquilos, ou seja, sem borbulhas, como este Vinhedos Hood.
Não chega a ser uma novidade. Já faz alguns anos que Marco Danielle, do Atelier Tormentas, do Rio Grande do Sul, um desses pequenos vitivinicultores do Brasil, que faz verdadeiras joias, com pequena produção, com destaque para os vinhos feitos com a uva Pinor Noir. 
Relativa novidade ainda pouco conhecida são os vinhos da Aracuri, vinícola também gaúcha, que consegue aliar qualidade a bom preço. Instalada na região de Vacaria, faz belos exemplares, entre espumantes, brancos e tintos, a exemplo de seu Pinot Noir leve e refrescante, como deveriam ser, de uma maneira geral, praticamente todos os vinhos produzidos no Brasil. 
Não é possível dizer que o Brasil tem vocação natural para a produção de grandes vinhos feitos com a Pinot Noir, mas este trio mostra que temos, sim, um imenso potencial, que já foi percebido e vem sendo explorado.

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Vinhedos Hood 2012 - Um vinho cheio de delicadeza e frescor, sutil, macio, com bela acidez, taninos finos. Passa 8 meses em barricas de carvalho, e tem apenas 12% de álcool e é bem seco, com agradável perfil aromático, trazendo primeiro muita fruta, muita flor, e depois algumas notas condimentadas, um leve tostado. Um vinho gastronômico por natureza, que vai abrilhantar um churrasco, pratos com massas em molho de tomate ou cogumelos, e receitas variadas, com coelho, pato, frango caipira, porco, leitão, e acho que até um cordeiro ele encara, fazendo-se valer de sua acidez pontiaguda. Custa R$ 74,53 na loja Cais de Icaraí (www.caisdeicarai.com.br; 21-2616-5354), em Niterói, e entre os outros poucos lugares onde pode ser encontrado está o restaurante Aprazível (www.aprazivel.com.br; 21-2508-9174).


Aracuri Pinot Noir 2012 - Aqui encontramos um belo vinho com ótimo preço. O Aracuri Pinot Noir custa R$ 34 na loja Mondovino (www.mondovinoweb.com.br; 2497-4211) e tem tudo para agradar aos que buscam um vinho bem acabado, com muita fruta e uma gama atraente de aromas, com um pouco de madeira e aromas que lembram couro e cogumelos. Tem boa acidez, mas na boca falta um pouco de persistência, com final curto, abrupto, o que não tira os méritos do conjunto, que é leve, delicado, harmonioso e um bom companheiro para se levar à mesa (com este fim, eu serviria queijos e embutidos, carnes curadas, pizzas, massas e até saladas, além de frango e galeto assado, e pratos com carnes brancas, de uma maneira geral, como aves, tipo codorna e galinha d'angola, pouco e até vitelo). 


Fulvia Pinot Noir Garagem 2012 - Os vinhos de Marco Danielle estão entre os mais falados entre os enófilos brasileiros, e existem fãs empolgados, como Ed Motta, que escreveu: "Fulvia Pinot Noir 2009 é um divisor de águas, o melhor vinho já feito no Brasil". Já houve degustações às cegas, mais de uma, em que o Fulvia bateu até alguns grandes vinhos da Borgonha (não que isso signifique grandes coisas). Fato é que é um belo vinho, com 13,3% de álcool muito bem integrados. Passa 12 meses em barrica, mas a madeira não tapa a fruta. Tem taninos firmes, mas bem redondos, e é um vinho estruturado. No nariz, além de muita fruta, apresenta notas terrosas Custa R$ 120 no site www.tormentas.com.br que vende, ainda, mais quatro rótulos de Pinot Noir, todos "en premieur", com entrega futura, por entre R$ 90 e R$ 140 (Fulvia Pinot Noir 2013; Serena Pinot Noir 2013; Monte Alegre dos Campos Pinot Noir 2013 e Piratini Pinot Noir 2013)

P.S. - Esta reportagem foi escrita para a edição de 5/5 de O Globo a Mais. Hoje o assunto é harmonização de queijos com vinhos tintos.

Site Oficial: http://oglobo.globo.com/blogs/enoteca/posts/2014/05/12/pinot-noir-da-origem-alguns-dos-melhores-vinhos-do-brasil-535737.asp